domingo, 26 de outubro de 2008

Travestidos em arte

Olhando para o traje que Caetano Veloso usa na imagem ao lado, podemos presumir que seja uma capa de invisibilidade nos moldes de “Harry Potter". Indo além, podemos sugerir características parecidas com ao traje do super-homem. Podemos ainda achar que é a toalha que sua vovózinha bota a mesa na hora do jantar. No entanto, esta roupa vermelha que o ícone do Tropicalismo aí usa, tinha características mais “loucas” que essas proposições. Parece uma proposição banal? Estou indo longe demais? Não sabe de qual loucura eu estou falando?

Então vos apresento o Parangolé. Criado a partir de impressões de Hélio Oiticica (artista plástico) sobre o popular samba no, não menos citado, ano de 1968. Já não bastavam as bandeiras levantadas, solos de guitarra, posturas moderninhas para a época, ali aparece então um visionário que propõe uma nova aproximação do apreciador da arte. Os artistas que vestiam roupas comuns - trajes que usados em características ortodoxas e comuns na arte da época – nunca se aproximariam das intenções encenadas no palco.

Inovador e ao mesmo tempo louco demais pra época - talvez ainda hoje o seja. Pode ser um abuso o considerar assim, mas a vestimenta ficava ali marcando o início de uma intensidade da relação do artista – ou expectador - com sua própria matéria prima e alvo de pesquisa. Algo bem pós moderno.

Apresentou-se como um traje – daqueles que usamos em ocasiões artísticas – que quando é vestido mostra-se como uma personificação do próprio conceito da arte que ficava presa às paredes dos museus. Esta arte então - com a influência do envolvimento dos artistas na roda de samba – se tornou um estandarte para ser apreciada. Irradiando cores múltiplas, formando geometrias estranhas e obtendo características diferentes de acordo com seu uso, a peça se desdobra na criatividade de seu usuário.

Ao apreciar o Parangolé, diz o próprio Hélio Oiticica, "o que interessa é justamente jogar de lado toda essa porcaria intelectual, ou deixá-la para os otários da crítica antiga, ultrapassada, e procurar um modo de dar ao indivíduo a possibilidade de 'experimentar', de deixar de ser espectador para ser participador."

Ou seja, ser mais atuante e mais envolvido em todos os sentidos filosóficos que envolvem a arte. Não só no sentido de observá-la, como também absorvê-la através da imersão na sua característica mais particular. Ai então, nos descobrimos detentores da nossa própria arte.

Uma contribuição incomparável para os aspectos artísticos da época, senão para os de hoje. Um pequeno vídeo ilustrativo sobre o Parangolé e sua arte:

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